domingo, 1 de setembro de 2013

HIERARQUIA EXTRATERRESTRE

O EU QUE SINTO FALTA

"Eu não sei quem eu sou. Eu não sei o que eu sou. Eu não sei o que eu gosto, eu não sei o que eu odeio. Eu sou neutro. Não existe epistemologia na neutralidade. É dessa forma que eu me levo, uma eterna corda bamba, a linha tênue entre abraçar tudo e não conseguir nada. Tente se encontrar em tudo, tente ser algo, tente viver algo. Apenas tente algo e verá que você não consegue nada por ser nada. É dessa forma que eu me levo. Me olho no espelho, me vejo diferente da forma com a qual verdadeiramente sou. Pessoas me olham da forma como sou, me vejo da forma como acho que sou, ambas particularmente ruins. É dessa forma que eu me levo. Olho pra tudo, porque tudo parece fácil, tudo parece tão fácil e horrivelmente difícil. Por ser eu, tudo é difícil. Quando tudo desmorona uma forma minha parece. Quando tudo se constrói outra forma minha aparece. Vivo na corda bamba do meu eu. De repente você acorda e percebe que não se vê como era. De repente você acorda e percebe que não é o que verdadeiramente pensa ser. Eu não sei o que eu sou, eu não aprendi a ser eu. Eu não tenho ideologia, eu não tenho gostos, eu não tenho personalidade, eu não tenho nada. Eu sou o nada. Dentro do mundo, o nada é o tudo. Com efeito de Clonazepam, o seu corpo fica tomado, possuído, você dorme acordado. Quem controla meu eu quando não estou? É fácil achar que sabe de tudo quando não sabe de nada. Tento me encontrar em livros, histórias, música, qualquer coisa. Não é como se eu gostasse, é como se eu necessitasse escrever o Script pro meu não eu seguir. Ele me controla, eu só abro o espaço. Não é como se sentir vazio no meio do nada. Não tenho distinção, não tenho meu eu. Não sei o que é vazio, não sei o que é cheio. Você acorda sendo Jesus, você acorda sendo Peer Gynt, você acorda sendo Dante, Vergíllio ou Baphomet. Você acorda sendo todos, menos você. O eterno looping de utopia, o eterno looping de nada. Talvez seja por isso que todos me acham louco, eles não entendem porque não sabem quem eu sou. Não tenho padrões, não existo. Mas… existe uma única e especial vantagem em ser nada: Eu não morro, eu não vivo. O meu legado é a raiz do seu. Quando meu corpo deixar de existir, meu nada irá continuar. Não se pode destruir o que não existe. É assim que eu me levo, assim irei me levar enquanto o tudo existir."